A PAX está desembarcando no Brasil
Senhoras e senhores,
Em 2021, a Devir lançará A Saga Completa de Martha Washington no Século XXI, uma edição de luxo, reunindo pela primeira vez no Brasil a história de Frank Miller e Dave Gibbons.
A saga que reunimos aqui, foi publicada num intervalo de 17 anos em diversas minisséries e especiais, abaixo um pouco mais sobre cada um deles, as histórias por dentro da história.
“GRITO DE LIBERDADE”
Martha Washington, foi criada por Frank Miller e Dave Gibbons entre os anos de 1988 e 1989, e publicada pela primeira vez em 1990 na minissérie “Grito de Liberdade”, da editora Dark Horse, e no Brasil, foi publicada pela Editora Globo como “Liberdade” em 1992.
A personagem, que tem propositalmente o mesmo nome da esposa de George Washington, o primeiro presidente norte-americano, nasceu no “distante ano de 1995”, em um Estados Unidos fascista, governado pelo presidente Rexall, que, entre outras coisas, inaugurou conjuntos habitacionais para os mais pobres, que, na verdade, são prisões.
Crescendo em meio a isso tudo, Martha aprende a sobreviver à duras penas, enfrentando todo o tipo de adversidade, é internada em um hospital psiquiátrico público e, posteriormente, despejada, até encontrar sua rota de fuga se alistando na PAX, as forças de paz do país, que defendem os interesses americanos em todo o mundo.
É numa das missões da PAX que Martha é enviada ao Brasil, para proteger a floresta Amazônica contra empresários inescrupulosos. Nessa batalha ela cria um vínculo com a floresta e a partir daí a história adquire contornos épicos.
Frank Miller, que vinha da aclamada minissérie O Cavaleiro das Trevas, acabou se desentendendo com a DC e levou sua mais recente criação para a Dark Horse, e “Grito de Liberdade” virou o maior sucesso independente da época. Inicialmente, vimos as mesmas críticas políticas e sociais apresentadas em O Cavaleiro das Trevas, o que deixou não Dave Gibbons muito animado com o tom sombrio apresentado e mudou os rumos da minissérie. Num ambiente com mais liberdade, livre de grandes pressões editoriais, Miller se divertiu com o roteiro, fazendo uma previsão bastante, digamos assim, acertada do futuro. Em “Grito de Liberdade”, pode-se ver a escalada da intervenção global norte-americana; os resultados devastadores de ataques terroristas; os avanços no campo da genética; genocídio; questões sobre biossegurança e biodiversidade; o tratamento dispensado às minorias; conglomerados ampliando seu domínio etc. Mostra que Miller estava bem atento aos acontecimentos do mundo na época e, como de costume, disposto a produzir uma história coerente e bem estruturada.
Dave Gibbons, que também vinha de outra aclamada minissérie, Watchmen, produziu uma arte, com um certo ar europeu, que combina muito bem com o roteiro.
“FELIZ ANIVERSÁRIO, MARTHA WASHINGTON”
Nossa edição traz ainda quatro histórias curtas e autocontidas, que têm em comum a guerra e a nossa protagonista. As histórias da edição especial Feliz Aniversário, Martha Washington e o mini-quadrinho que acompanhou uma figura de ação da Martha comercializada em 1998. A história “Insubordinação” é o tributo de Frank Miller e Dave Gibbons ao Rei dos Quadrinhos, Jack Kirby, falecido em 1994, e mostra uma conversa alegórica e comovente entre e Martha e o supersoldado, onde Miller quebra a barreira entre Kirby e sua criação mais famosa, o Capitão América.
A essa altura, cuidar das cores no computador já tinha se tornado algo comum na colorização de histórias em quadrinhos, e isso ficou por conta de Angus McKie, famoso por suas capas de livros de ficção científica e as histórias coloridas para a revista Heavy Metal. Allan Craddock entrou em cena para colorizar “Danos Colaterais”.
As cores aliás, são um espetáculo à parte, uma viagem no tempo através das técnicas e tecnologias da colorização. Falando em tecnologia, vale lembrar que o letreiramento original de “Logística” é uma fonte de computador feita por Richard Starkings e John G. Roshell da Comicraft, pioneiros do letreiramento digital nos quadrinhos. As onomatopeias e a sinalização na lanchonete também foram criadas por computador.
“MARTHA WASHINGTON VAI À GUERRA”
Martha agora é tenente, e com o “poderio” bélico da PAX, ela enfrenta os rebeldes que lutam na Segunda Guerra de Secessão e, também, seu novo arqui-inimigo: o Cirurgião Geral. E é aqui que Martha cresce como personagem: ela descobre que toda história tem os seus dois lados, e que talvez não esteja lutando do lado certo. Inspirada na obra da controversa escritora objetivista Ayn Rand, a história de Miller leva Martha a lugares muito distantes de suas origens no gueto. Ele renuncia ao “realismo” e introduz mutantes, cidades espetaculares e tecnologia de ponta.
E desta vez a arte de Gibbons está bem diferente da primeira minissérie. Que diz ter redesenhado o primeiro episódio de Martha Vai à Guerra, visto que a primeira versão, parecia não ter a energia cinética de muitos dos quadrinhos da época. Mas, a principal diferença se dá por conta da colorização de Angus McKie.
“MARTHA WASHINGTON PERDIDA NO ESPAÇO”
Essa é a segunda aparição de Martha em 1995, na sequência da edição especial Feliz Aniversário. Seguindo os moldes da publicação anterior, traz uma história que já tinha sido publicada em preto e branco na revista Dark Horse Presents, e mais uma história inédita. Além de cuidar da arte, Gibbons também colorizou a capa de Perdida no Espaço.
A primeira história, “Crossover”, apresenta Big Guy, um personagem de outro título do selo Legend, Big Guy & Rusty – O Menino-Robô, de Frank Miller e Geof Darrow, que a Devir também já publicou no Brasil.
Na segunda história, O Ataque dos Monstros Carnívoros, Miller aproveita para fazer uma paródia dos filmes de ficção científica dos anos 50 e 60, além de uma referência ao famoso card game Marte Ataca!, no qual o filme de Tim Burton foi baseado. Martha já havia se aventurado no espaço na metade da primeira minissérie, Grito de Liberdade, mas agora fica claro que este é o lugar onde seu vertiginoso destino provavelmente será cumprido.
“MARTHA WASHINGTON SALVA O MUNDO”
Não se sabe se Miller e Gibbons tinham em mente um final parecido para Martha Washington, mas não decepcionaram, mesmo adotando um tom menos crítico, satírico e realista do material produzido anteriormente. Agora, Vênus, uma inteligência artificial, é a nêmesis de Martha. Apesar do ritmo frenético e absurdo, a história funciona perfeitamente como uma despedida para Martha Washington. Afinal, ela percorreu um longo caminho desde o Jardim Cabrini.
Gibbons também caprichou no layout das páginas: quadrinhos menores com personagens intercalados com splash pages de cenários cósmicos. Curiosamente, na época, Miller estava trabalhando na sua graphic novel épica, Os 300 de Esparta, contada integralmente em splash pages, assim como boa parte do último número de Salva o Mundo.
“…à sua maneira, o mundo real de 1997 também era um lugar diferente. Talvez não tivesse exatamente a insanidade que imaginamos no mundo de Martha, mas as mudanças na vida cotidiana e na geopolítica mundial estavam lá, tão assustadoras e disparatadas quanto qualquer outra coisa que poderíamos ter inventado.”
Dave Gibbons.
“MARTHA WASHINGTON MORRE”
Frank Miller e Dave Gibbons sempre conjecturaram como e quando Martha morreria, e a única certeza que tinham era a de que queriam testemunhar esse momento, assim como tinham testemunhado seu nascimento no primeiro número de Grito de Liberdade.
Mas os acontecimentos da vida distanciaram os dois, que sabiam que ainda tinham um assunto pendente chamado Martha Washington. E dez anos se passaram antes de voltarem a trabalhar com sua tão querida personagem. Em março de 2006, Miller finalizou um roteiro que arrancou lágrimas da editora Diana Schutz e, também de Gibbons, amarrando todas as pontas em apenas dezessete páginas, uma enigmática e comovente despedida, com as únicas últimas palavras que ela poderia ter pronunciado.
“Alan é comparável a um compositor clássico – um Mozart, digamos assim – que parece ter cada nota de sinfonias imensas traçada em sua cabeça. Frank, por outro lado, é como um jazzista virtuoso, um Miles Davis, com uma técnica impecável, mas pronto para saltar em um voo de imaginação ou dar lugar a um refrão inesperado se bater a vontade.”
Dave Gibbons.
Sobre os autores
FRANK MILLER
Frank Miller começou sua carreira nos quadrinhos no final dos anos 1970, primeiro desenhando – e depois também escrevendo – Demolidor para a Marvel Comics, criando o que era basicamente um gibi policial disfarçado como uma HQ de super-herói. Foi com Demolidor que Miller alcançou a fama, aperfeiçoou suas habilidades narrativas, e deu seus primeiros passos para se tornar um gigante na mídia dos quadrinhos.
Depois de Demolidor veio Ronin, um drama de ficção científica com samurais que mesclou perfeitamente a tradição dos quadrinhos franceses e japoneses com o mercado tradicional americano; e, posteriormente, as inovadoras e aclamadas Batman: O Cavaleiro das Trevas e Batman: Ano Um, sendo que ambas não só redefiniram o clássico personagem, como também revitalizaram a indústria em si.
Finalmente podendo realizar seu sonho de fazer uma série policial nua e crua, Miller apresentou Sin City em 1991. Os leitores ficaram entusiasmados com o drama noir contundente como um prego batido, criando um sucesso de vendas instantâneo. A sua premiada série 300 de Esparta da Dark Horse, em que ele narra a mais gloriosa e subestimada batalha da História, materializou-se com muito sangue em 1998.
Em 2001, Miller retornou ao gênero de super-heróis com a popular Batman: O Cavaleiro das Trevas 2. Ele continuou a contar as aventuras do Cavaleiro das Trevas como roteirista de Grandes Astros: Batman & Robin, da DC Comics, que estreou em 2005.
Frank Miller não parou de levar a forma de arte a novos territórios, explorando temas que antes não eram abordados nos quadrinhos, e seu trabalho recebeu constantemente os maiores elogios tanto de seus colegas de indústria como de leitores em toda parte. Em 2005, o estilo único de narrativa de Miller tomou Hollywood de assalto, transformando-o em um nome comercial internacional com o grande sucesso de Sin City, filme codirigido com Robert Rodriguez, e, também, com a adaptação de 300 de Esparta feita por Zack Snyder, em 2007, na qual Miller serviu de consultor. Em 2008, Miller acrescentou as funções de roteirista-diretor ao seu já impressionante currículo com The Spirit, sua adaptação da clássica série policial de Will Eisner. E, em 2014, voltou à carga com Sin City 2: A Dama Fatal, a sequência de Sin City, também codirigido com Robert Rodriguez.
Em 2011, Miller voltou aos quadrinhos com Terror Sagrado, da Legendary Comics, e, no ano de 2015, agraciou os leitores com Batman: O Cavaleiro das Trevas 3 – A Raça Superior, em uma parceria com Brian Azzarello, Andy Kubert e Klaus Janson. Em 2018, o célebre artista produziu a sequência de 300 de Esparta: Xerxes: The Fall of the House of Darius and the Rise of Alexander, da Dark Horse. Em 2019, Miller escreveu Superman: Ano Um, para o novo selo da DC Comics, Black Label, com desenhos de John Romita Jr. Em 2020, a Netflix lançou Cursed: A Lenda do Lago, que faz uma releitura da lenda do Rei Arthur e é uma adaptação do romance homônimo escrito pelo americano Tom Wheeler e ilustrado por Frank Miller, ambos também produtores do programa. E ainda veremos The Dark Knight Returns: The Golden Child, com roteiro de Miller e arte do brasileiro Rafael Grampá. O homem é incansável. Amém.
DAVE GIBBONS
Dave Gibbons tem sido um prolífico criador de quadrinhos desde que se tornou um desenhista profissional em 1973. Um colaborador frequente da revista de antologia britânica 2000 A.D., começando com o primeiro número em 1977, Gibbons ilustrou séries como Harlem Heroes, Dan Dare, Juiz Dredd e Choques Futuristas, e cocriou Rogue Trooper. Em 1979, ele foi para a revista Dr. Who Weekly, da Marvel U.K., na qual ilustrou a principal série de quadrinhos da publicação.
Desde então, Gibbons já desenhou e escreveu para a maioria das editoras de quadrinhos dos dois lados do Atlântico. Parte da primeira onda da “invasão britânica” na indústria de quadrinhos americana, ele fez sua estreia nos E.U.A. desenhando o gibi do Lanterna Verde. Gibbons talvez seja mais conhecido por suas colaborações históricas com Alan Moore nesse período: a história seminal de Superman, “Ao Homem que Tem Tudo”, e a obra revolucionária da dupla Watchmen, a única história em quadrinhos presente na lista dos 100 melhores romances do século vinte escolhidos pela revista Time.
Em 1990, Gibbons se juntou a Frank Miller para criar Grito de Liberdade na Dark Horse, mais uma vez promovendo a mídia ao demonstrar a viabilidade de conceitos originais e a propriedade autoral no mercado de quadrinhos americano. Os Originais, publicado pela Vertigo em 2004, foi a primeira graphic novel original de Gibbons e o seu trabalho mais pessoal, combinando uma sociedade futurista com a sensibilidade do estilo moderno dos anos 1960. Outros trabalhos notáveis de Gibbons incluem Os Melhores do Mundo, Captain America Lives, Star Wars: Vader’s Quest, Aliens: Salvação, Batman vs. Predator, A Guerra Rann/Thanagar e Tropa dos Lanternas Verdes.
Com a adaptação cinematográfica de Zack Snyder atraindo os holofotes novamente para Watchmen, Gibbons foi fundamental na transposição do estilo visual da graphic novel para a telona, e abriu seus arquivos para oferecer um olhar totalmente inédito sobre a produção da série clássica, com Bastidores de Watchmen.
Em 2012, ele desenhou a HQ Kingsman: Serviço Secreto, escrita por Mark Millar. A história foi adaptada para o cinema em 2015.
Em 2017, reza a lenda que o showrunner Damon Lindelof só seguiu em frente com a produção da HBO de Watchmen depois de ter recebido a aprovação de Gibbons, que ficou muito satisfeito com o resultado de mais uma adaptação da sua obra máxima.
Mais informações. https://devir.com.br/a-saga-completa-de-martha-washington-no-seculo-xxi-preview/