Telma – do papel para a mesa

A história de Telma, ou seria Berenice?
Por Pedro Ometto

Era 2015. Tínhamos acabado de lançar o Cafundó em parceria com a Devir. Num sábado, Pedro chamou a todos os tamanduás – na época éramos quatro -, mais alguns agregados, para uma jogatina na nossa “sede” na Rua Afonso Celso – vulgo casa do Pedro e do André. Tem um jogo que eu queria mostrar pra vocês, ele disse. Era um jogo com cartas comuns de baralho, que Pedro havia aprendido com o amigo Vitor na adolescência. Pegamos um baralho velho, brinde de uma empresa de recauchutagem de pneus, e jogamos.

Os Tamanduás: André, João, Joba, Lucas e Pedro.

O coração do jogo já estava lá: os apelidos, as cartas reveladas em sequência, o coringa que dava aquele calafrio em geral… e já no mesmo dia começamos a recortar cartas e desenhar pra fazer as cartas duplas. Também no mesmo dia surgiu a ideia de fazermos as três rodadas, cada vez aumentando a dificuldade dos apelidos. E, alguns dias depois, em alguma ida mais longa ao banheiro, alguém teve a ideia de reduzir para 10 o número de cartas diferentes (ao invés das 13 do baralho comum), para manter cada rodada mais enxuta – e pra dar menos trabalho ao João, que ia ter que desenhar as cartas à mão.

Pedro, Douglas, João e Joba.

Com aquela coragem que só a falta de experiência proporciona, decidimos mostrar o jogo pro Douglas. Uma ou duas semanas depois já estávamos em reunião. Gosto da ideia. E como chama o jogo?”, perguntou o saudoso mestre. Pedro, um pouco envergonhado, disse Olha, por enquanto o jogo chama Telma, mas é só porque a gente sempre chamou o jogo assim, então super podemos mudar e…” “Não”, interrompeu o Douglas, eu gosto de Telma! As pessoas vão ficar curiosas sobre o nome!”.

A primeira Telma – parte 1.

Que ótimo!, pensamos, uma coisa a menos pra se preocupar – já que o nome do Cafundó foi resultado de meses de pesquisa e desespero. Só tinha um problema: ninguém sabia por que o jogo se chamaria Telma. Quer dizer, a gente sabia, a Telma era uma amiga do Vitor que, diz a lenda, teria inventado o jogo. OK para um jogo de baralho, mas não para um jogo publicado pela Devir. A gente tinha que inventar uma história.


A primeira Telma – parte 2.

A primeira história que criamos era bem legal: a Telma seria uma menina mala que dava apelidos pras pessoas e acumulava objetos no seu quarto, e que ficava brava toda vez que alguém aparecia com algum objeto repetido. Isso inspirou o João, que criou 10 lindas ilustrações com objetos para as cartas, entre elas: uma bicicleta, uma harpa, uma plantinha no pote de iogurte… o problema foi quando começamos a testar o jogo com pessoas reais: ao invés de falarem os apelidos, as pessoas gritavam o nome do objeto da carta: “BICICLETA!” “HARPA!” “PLANTA!”… era desesperador. Ou seja, de volta à prancheta de desenho.


Telma (ou Berenice) – A Celta.

De fato, fazer o cérebro ignorar o objeto da carta para lembrar do apelido do coleguinha era uma camada a mais do que gostaríamos de ter no jogo. Tínhamos que ter imagens mais… abstratas. E foi numa tarde de sábado (benditos sábados!) no apartamento do Joba que o João começou a rascunhar umas mandalas que pareciam símbolos celtas. O André já mandou uma e se a Telma fosse uma garota celta?. Depois da inevitável piada com o carro da GM, e da outra com o Cebolinha, o Joba veio com a história de que a Telma seria a campeã de um jogo celta milenar, e o Pedro logo inventou que a menina se chamava Berenice, mas que ganhou o apelido de Telma porque provocava os colegas gritando “TELL MY NAME!. O que gramaticalmente não está correto, o normal em inglês seria dizer “SAY MY NAME!”, mas um jogo chamado “Seima” com certeza não teria tido o mesmo sucesso.

Telma – a primeira impressão.

Tamanduás na mesa.

O resto é história. Com mais de 20 mil cópias vendidas desde 2017 (1a e 2a edições), Telma é um dos jogos 100% nacionais mais vendidos do Brasil, além de ser o único jogo de que se tem notícia que tem música e videoclipe próprios. Recebemos mensagens dos mais diversos tipos: desde agradecimentos pelas horas de risadas proporcionadas, até comentários que estão no limite entre o elogio e a ameaça de processo penal (tipo meu filho quase morreu de rir por causa de vocês).


Telma – como jogar.

Não poderíamos deixar de citar o potencial utilitário de Telma. É muito gratificante saber que o jogo está sendo usado por professores, e que os conceitos usados como apelidos grudam como cola na cabeça dos alunos! Vale também mencionar uma citação de Telma numa tese de doutorado sobre a prática de jogos analógicos com idosos (obrigado dra. Nakamura!). Eu daria tudo pra estar lá durante a partida e ver uma senhorinha chamando a outra de “vaca voadora” ou de “porca malhada” (citações da própria tese)

Telma na mesa.

Mas o que mais nos deixa felizes são os royalties são as diversas variantes do jogo que as pessoas criam para jogar com o seu grupo: já soubemos de gente jogando Telma com 3 rodadas só de gestos (provavelmente para evitar reclamação dos vizinhos à noite); Telma com apelidos cada um em uma língua diferente (e a gente aqui tentando simplificar o jogo…) e claro, Telma regada a cachaça. E é isso mesmo, um jogo é como um filho, depois de criado, está livre pra ser o que quiser. Agora, em sua 3a edição, Telma está mais animada do que nunca. Vida longa à nossa Berenice!

Telma – terceira edição.

Os Tamanduás REACT.

Saiba mais em Telma Terceira Edição – site Devir
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